quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

DEVEMOS NOS SUJEITAR À UMA CONOTAÇÃO RELIGIOSISTA?

As religiões que não passam,em última análise,de quimeras antropomorfas,fizeram ingenuamente,do homem a imagem material da divindade,e da alma um princípio,uma causa especial,completamente diferente de quanto existiu no mundo.As religiões proscreveram a razão e fazendo exclusivamente questão de fé,pretenderam impor a crença em dogmas imaginados,quando os conhecimentos humanos ainda se achavam na infância,vêem se afastar delas,as pessoas independentes que preferem as realidades tangíveis e sempre verificáveis da experiência a todas as afirmações autoritárias e fundamentadas na condenação.Foi provado cientificamente a imortalidade da alma,sendo certamente,a mais importante e a mais fecunda descoberta do século XIX.Chegar a conhecimentos positivos sobre o amanhã da morte é revolucionar a Humanidade inteira.O Espiritismo deu a Moral uma base científica e uma sanção natural,à revelia de todo e qualquer credo dogmático e arbitrário.A Doutrina Espírita,facultando o conhecimento da composição do Espírito,tornando,por assim dizer,tangível a parte fluídica de nós mesmos,projetou viva luz nesses meandros aparentemente inabordáveis,de vez que permite abarcar em uma vasta síntese todos os fatos da vida corporal e intelectual,e mostra-nos as relações entre uma e outra,até então desconhecidas.
O Ensino dos Espíritos foi,como sabemos,coordenado com superioridade de vistas marcante e lógica incontestável,por Allan Kardec.Filósofo profundo,ele expôs metodicamente uma série de problemas relativos à existência de Deus,da alma,da constituição do Universo.Deu solução clara e racional à maior parte dessas questões difíceis,tendo o cuidado de forrar-se de raciocínios metafísicos.Cabe aos espíritas a reflexão sobre os rumos que o Movimento vem tomando, sistematicamente, numa alusão à preferência pela conotação religiosista (ao invés de filosófico-moral) de seus textos, pronunciamentos, atividades, eventos e realizações. O discurso que relembra Kardec, de lógica e bom senso, infelizmente, não corresponde à realidade da prática. É bem verdade que a disseminação (por meios leigos) dos conceitos da Doutrina (nem sempre totalmente fiéis ao conteúdo espiritista) tem chamado a atenção de inúmeras individualidades, pelo mundo afora, aproveitando a “sede” de conhecimento que sucedeu a era da mera fenomenologia psíquica. Embora ainda existam episódios mediúnicos nas famílias, com clara conotação de quadros obsessivos, a verdade é que há uma imensa gama de pessoas interessadas nas informações de origem espiritual (proclamadas não só pelas inteligências desencarnadas, como, também, pelos estudiosos e pesquisadores), que precisam de atendimento e orientação específicas, exigindo de dirigentes, participantes e das próprias instituições a reciclagem de seus métodos e, principalmente, de sua linguagem.
A tendência religiosa da ampla maioria das instituições tem sido o principal elemento de desvalorização da proposta consciencial e sociológica do Espiritismo. Fala-se muito de quase tudo, mas sem a profundidade e o alcance devidos, resultando em casuísmos, achismos e respostas opinativas, que não subsistem a comparação com os fundamentos da Doutrina. Mentores, guias ou dirigentes têm substituído a genuína filosofia espírita – graças à simpatia dos responsáveis pelas atividades espíritas, e, de roldão, os freqüentadores – pela literatura mediúnica “oficial”, isto é, as obras psicografadas por médiuns famosos e ditadas por espíritos considerados quase como “unanimidades”, apesar de não terem, seus escritos submetidos aos mesmos parâmetros do trabalho kardequiano (o Controle Universal do Ensino dos Espíritos).Felizmente, nem todos pensam assim. Há os que se esforçam em estudar, comparar e produzir trabalhos relevantes, em suas áreas de conhecimento e afinidade, permitindo-nos supor que o “espírito” de Kardec os anima, acenando com uma perspectiva da melhoria da qualidade do trabalho e da produção espírita para o porvir.
Qual é a efetiva proposta da filosofia espírita para o mundo em que vivemos? Se o Espiritismo compreende os ideais de renovação moral da Humanidade, com informações espirituais àqueles que tiverem “ouvidos para ouvir e olhos para ver”, estima-se que os ideais espíritas deixem de ser “mera filosofia” para agregarem-se às práticas cotidianas das pessoas, de modo que as máximas, os preceitos e os conceitos espíritas possam estar consolidados nas ações humanas. Por isso, convenciona-se dizer, nos últimos tempos, que não se faz Espiritismo apenas e tão-somente no interior das Casas (ou Instituições) Espíritas. Para tornar-se crença comum (não no sentido religioso – o ufanismo do “futuro das religiões”, a “religião do futuro”, o “ecumenismo” – mas, do contrário, a noção comum, com base no entendimento da maioria das criaturas aqui encarnadas,do verdadeiro caráter do Espiritismo.A Doutrina precisa ganhar as ruas, não pela simples pregação e doutrinação, mas pela presença (ativa) de seus adeptos e divulgadores nos diversos cenários da vida humana, como agentes transformadores. Participando, efetivamente, e não se esquivando, com a desculpa de que tudo evoluirá, um dia, e que os Mentores Espirituais, os grandes encarregados por tarefas e missões, neste planeta, conduzirão, no tempo certo, o mundo para o estágio regenerativo.
Muitos espíritas, pacientemente, ficam esperando... Enquanto este dia não vem, adeptos de outras ideologias e correntes filosóficas ou religiosas ocupam espaços, defendem suas formas (restritas e, quase sempre, a nosso ver, incorretas) de ver o mundo, a vida, os homens. Ficamos lamentando que as organizações sociais são materialistas... Bradamos contra a existência de tantos feriados “católicos”, num país laico, sem derivação religiosa qualquer. A visão espírita precisa, então, pelo menos, ser apresentada, ex-posta, defendida, contraposta aos padrões ideológicos vigentes ou conhecidos.No Ocidente, onde vivemos, a Igreja, dita cristã, não difere das demais: segue rigorosamente os mesmos princípios religiosos de garantir que o seu Mestre - no caso, ficticiamente, Jesus - seria o único verdadeiro que “salvaria” aqueles que o aceitassem de corpo e espírito e em essência. Salvar de quê? Do Pecado Original, já que não havia outra culpa que pudesse ser imputada ao fiel seguidor do Cristianismo. Tudo isso, evidentemente, inaceitável para nosso raciocínio. Não podíamos conceber privilégios para os que seguissem fielmente as determinações eclesiásticas, independentemente de sua conduta e de suas ações.
Há mensagens mediúnicas de Emmanuel e Joanna de Ângelis,tentando transformar o Espiritismo em mais uma seita evangélica, legando a segundo plano não só a prudente filosofia espírita de vida como ainda as provas fenomênicas da existência de uma vida espiritual verdadeira, completamente diferente daquela que o Cristianismo, com Emmanuel e de Ângelis estavam pregando.Mas o que podemos verificar é que impera esta mentalidade: não respeitam mais Kardec e, para os seguidores do tal Cristianismo redivivo, nada mais teria valor senão a salvação por Cristo, o exemplo de vida e o grande Mestre responsável pelo nosso planeta.Na minha parca opinião,se deveria evitar tumultuar a formação doutrinária e a linha de pensamento do verdadeiro Espiritismo.Curioso: Emmanuel foi um padre Jesuíta. Estranho: a tendência atual do Movimento Espírita no Brasil é de transformá-lo numa seita cristã, adotando, até, os dogmas do Cristianismo, tendo Jesus como Salvador e único.O Emmanuelismo seria muito bem-vindo se não quisesse impor seus preceitos com espíritas. O Roustainguismo, apesar da sua mediocridade de princípios docetistas, poderia coexistir pacificamente em qualquer lugar, com seus adeptos, desde que eles não se tivessem como seguidores de Kardec, tentando “evangelizar” nosso meio com estultices de um ser “fluídico”, imaterial, contrariando tudo o que a Ciência, até o presente momento, conhece.

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